A pastagem é o principal insumo da pecuária de corte e leite. Portanto, deve apresentar boa produtividade, qualidade, palatabilidade e longevidade. Para que isso ocorra, alguns procedimentos ou técnicas de baixo custo devem ser adotados, ou até mesmo o não aumento de custos.
Para cada invernada ou área da fazenda, existe uma espécie mais adaptada e produtiva.
Quando da escolha dessa espécie, os seguintes procedimentos devem ser observados:
• Diagnóstico da área: realizado por meio da análise química e física do solo, tipo de solo, clima, topografia, pragas, invasoras, impedimentos físicos ou mecânicos, histórico da área e outros.
• Associado ao diagnóstico, devem ser ainda considerados a produtividade desejada, o nível tecnológico a ser adotado, o objetivo da produção e a época de utilização da espécie.
Eliminar rebrote de cerrado de porte alto, arbustos, moitas, tocos, paus ou galhadas.
Construir terraços ou curvas de nível quando a área apresentar susceptibilidade ou risco de erosão ou até mesmo escorrimento superficial da água das chuvas.
Quando a análise de solo indicar a necessidade de uso de calcário, este deve ser aplicado com uma antecedência de 60-90 dias antes da aplicação de adubo fosfatado; a quantidade a ser utilizada também vai depender da espécie forrageira e o nível de produtividade desejado. Consultar um engenheiro-agrônomo.
Deve ser feito de modo a proporcionar uma ótima germinação e estabelecimento da pastagem. A intensidade e os equipamentos a serem utilizados no preparo de solo vão depender do tipo deste, quantidade e espécies de invasoras e a forragem a ser implantada.
A pastagem deve ser encarada como uma cultura que vai produzir por muitos anos. Portanto, o preparo do solo deve ser igual, ou melhor, ao daquele utilizado para plantio de soja, algodão, milho e outros, isto é, poucos torrões, solo nivelado e livre de invasoras, com pouca palhada. Em áreas que apresentarem uma alta quantidade de palhada, realizar o preparo do solo no mínimo 120 dias antes do plantio no período das águas, para que ocorra a decomposição dela sem interferir na germinação da pastagem.
Em áreas que apresentarem uma alta infestação de invasoras ou outras forrageiras, fazer o preparo do solo escalonado para favorecer a germinação e eliminação delas, retardando o plantio da forrageira.
Evitar o preparo excessivo do solo (pulverização), principalmente nos mistos e arenosos.
Aplicar as quantidades recomendadas desses nutrientes quando a análise de solo indicar deficiências, levando em consideração o resultado da análise de solo, a exigência de cada espécie e o nível de produtividade desejado. Podem ser aplicados antes do plantio ou em cobertura, exceção feita aos fosfatos naturais reativos, que, quando recomendados, devem ser sempre antes do plantio e incorporados.
Características das principais plantas forrageiras
Espécies | Exigência em Fertilidade | Tolerância | Profundidade de plantio (cm) | Teor PB* | Pontos de VC/ha | |||||
Condições de Plantio | ||||||||||
Frio | Seca | Umidade | Cigarrinha | Ótima | Média | Ruim | ||||
Brachiaria brizantha CV. Marandu | Média a alta |
Média | Média | Baixa | Resistente | 2-4 | Média | 280 | 400 | 500 |
Brachiaria decumbens CV. Basilisk |
Média a baixa |
Média | Boa | Baixa | Susceptível | 2-4 | Média | 180 | 280 | 380 |
Brachiaria dictyoneura CV. Llanero |
Baixa | Média | Boa | Média | Tolerante | 1-3 | Média a baixa | 250 | 350 | 450 |
Brachiaria humidicola CV. Humidícola | Baixa | Média | Boa | Alta | Resistente | 1-3 | Baixa | 250 | 350 | 450 |
Panicum maximumCV. Mombaça | Alta | Média | Média | Baixa | Tolerante | 0,5-2,5 | Alta | 160 | 300 | 400 |
Panicum maximumCV. Tanzânia | Alta | Média | Média | Baixa | Tolerante | 0,5-2,5 | Alta | 160 | 300 | 400 |
Panicum maximumCV. Massai | Média a alta |
Boa | Média a boa | Baixa | Tolerante | 0,5-2,5 | Média a alta | 160 | 300 | 400 |
Paspalum atratum CV. Pojuca |
Média a alta |
Média | Média | Alta | Resistente | 1-3 | Média a baixa | 200 | 300 | 400 |
Andropogon gayanus CV. Baeti | Baixa | Alta | Alta | Média | Resistente | 0,5-1 | Média | 250 | 350 | 450 |
Pennisetum glaucum CV. Milheto | Média a baixa |
Baixa | Alta | Baixa | Resistente | 1-4 | Alta | linha 12kg/ha lanço 16kg/ha | 16kg/ha 20kg/ha | 20kg/ha 24kg/ha |
Eleusime corocama CV. Pé-de-Galinha | Baixa | Média | Alta | Baixa | Resistente | 0,5-2 | Alta | 8kg/ha | 10kg/ha | 12kg/ha |
Paspalum saurae CV. Pensacola |
Média a alta |
Boa | Boa | Baixa | Tolerante | 0,5-2 | Média | 1600 | 1900 | 2000 |
Espécies | Exigência em Fertilidade | Tolerância | Profundidade de plantio (cm) | Pontos de VC/ha | ||||
Condições de Plantio | ||||||||
Frio | Seca | Umidade | Ótima | Média | Ruim | |||
Calopogônio | Baixa a média e alta |
Baixa | Alta | Média | 1,0-3,0 | 2 | 3 | 4 |
Estilosantes Campo Grade | Baixa | Alta | 0,5-2,0 | 2 | 3 | 4 | ||
Leucena | Alta | Média | Alta | Baixa | 1,0-4,0 | 32 | 35 | 40 |
Guande | Baixa, média e alta | Média | Alta | Baixa | 2,0-4,0 | 25 | 35 | 40 |
Arachis Pintoi | Baixa a média | Média | Média | 2,0-4,0 | 8 | 9 | 10 | |
Mucuna-preta | Baixa a média | Média | Alta | Baixa | 3,0-5,0 | 50 | 60 | 70 |
* Teor de proteína: Quanto à qualidade das pastagens, em termos de proteína e digestibilidade, existe uma grande variação diária conforme a espécie, época do ano, estádio de desenvolvimento, parte da planta e nível de fertilidade do solo. O teor de proteína pode variar de 5% a 24% e a digestibilidade de 45% a 75%.
**Condições de plantio: Referente a preparo de solo, potencial de invasoras, equipamento a seu utilizado, época de plantio, condições climáticas, topografia (susceptibilidade à erosão) e objetivos de uso da forragem.
Obs.: No caso de plantio aéreo, a quantidade de sementes recomendada por hectare deverá ser aumentada em 50%. Quando o plantio for para solos muito arenosos, pode-se aumentar a profundidade recomendada.
Para a maioria das forrageiras, a época do plantio é muito ampla em quase todo o território nacional, começando com as primeiras chuvas em setembro até março. A melhor época é de novembro a janeiro.
Plantio a lanço:
O plantio pode ser realizado a lanço sobre o solo devidamente preparado com uma grade leve, parcial ou totalmente fechada, para incorporar as sementes de 0,5 a 4 cm de profundidade, exceto para estilosantes ou andropógon. Logo após a última gradagem (niveladora), aplicar a semente e passar o rolo compactador de ferro ou pneu, com maior peso no solo arenoso; médio, no misto, e leve, no argiloso.
Não passar o rolo em solos com excesso de umidade, para que a terra não grude no rolo.
Plantio com semeadeira:
Deve seguir as mesmas exigências do plantio a lanço, com espaçamento entre linhas de 13 a 40 cm, dependendo do equipamento e espécie forrageira, com profundidade de 0,5 a 4 cm, podendo realizar, na mesma operação, a adubação da pastagem ou consórcio com outras espécies. Se a semeadeira não possuir sistema de compactação, passar o rolo compactador. Condição ótima para plantio: Solo bem preparado, com boa umidade, baixa incidência de invasoras, pragas ou outras forrageiras, plantio de novembro a janeiro, utilizando equipamento adequado, na profundidade da semeadura recomendada, e rolo compactador.
Plantio direto:
• Requisitos: exige as mesmas condições do plantio direto de grãos, isto é, com boa cobertura do solo, com palhada uniforme, sem limitações químicas e físicas, sem erosão, compactação, trilheiros, cupins, tocos, invasoras não controladas por herbicidas e outros;
• Onde e quando utilizar: em fazendas que possuem máquinas e equipamentos adequados; em áreas com alta infestação de invasoras; quando é necessária uma rápida formação da pastagem e plantio de safrinha. Após a dessecação, realiza-se o plantio de linhas espaçadas de 13 a 40 cm, colocando-se 10% a 20% a mais de sementes do que o sistema tradicional.
As pragas mais importantes na formação de pastagens são: as lagartas, cupins subterrâneos e formigas. Toda vez que o nível de infestação for significativo este deve ser controlado com pesticidas específicos para cada tipo de praga, com as dosagens recomendadas por um técnico. O não controle dessas pragas pode comprometer a formação e a persistência da pastagem.
Em áreas com alta infestação de invasoras anuais e perenes deve-se adotar, sempre que possível, o controle mecânico, cultural e químico.
• Mecânico – preparo do solo escalonado, para reduzir o banco de sementes do solo.
• Cultural – em áreas que apresentam infestação de invasoras, aumentar em até 50% a quantidade de sementes recomendada.
• Químico – após a germinação da pastagem, ocorrendo alta infestação de invasoras de folhas largas, em manchas, em parte ou em toda a área, controlar usando herbicidas na base 2,4-D. Aplicar quando as invasoras atingirem de 2 a 6 folhas.
Para gramíneas forrageiras de média a boa produtividade, o nitrogênio é muito importante, principalmente em solos de baixo teor de matéria orgânica. Estando todos os nutrientes corrigidos, o nitrogênio é o que proporciona o maior aumento de produtividade. Para a formação de pastagem, recomenda-se a aplicação de nitrogênio de 30 a 40 dias após a emergência ou após o manejo de formação (primeiro pastejo), com o objetivo de auxiliar na boa formação da pastagem. A dose aplicada vai depender da análise de solo, espécie forrageira e produtividade desejada.
Esse manejo, também chamado de pastejo de uniformização, tem como objetivo contribuir para a boa formação da pastagem. A princípio, deve-se iniciar o pastejo de 60 a 100 dias após a emergência da pastagem, ou antes da emissão da inflorescência (sementeira), desde que o plantio seja realizado na época recomendada para cada região. Devem-se utilizar, de preferência, animais jovens com alta lotação animal, por curto período de tempo (10 a 30 dias). As vantagens desse manejo são:
• Evitar o acamamento.
• Diminuir a competição eliminando o excesso de plantas.
• Eliminar a maior parte das gemas apicais, reduzindo assim a produção de semente e translocação de nutrientes para estas, estimulando a emissão de novos perfilhos e raízes.
• Antecipar a utilização da forragem, aproveitando o autovalor nutritivo, com boa produção de carne/hectare.
• Proporcionar a mais rápida e perfeita cobertura de solo.
As principais vantagens de uma boa formação de pastagem não economizando sementes são:• Boa cobertura da área evitando compactação e erosão do solo.
• Maior competição com as invasoras, eliminando o controle mecânico e químico, de custo mais elevado.
• Aumento de retenção de água do solo, conseqüentemente haverá menor efeito de veranicos ou seca, sobre o crescimento da pastagem.
• Maior eficiência no aproveitamento e menor perda de nutrientes.
• Maior produtividade e qualidade de forragem.
• Aumento dos microorganismos do solo.
• Aumento da produção de carne/hectare, com menor custo.
• Produção de uma pecuária sustentável.
• Valorização da propriedade
Pode ser:
Contínuo: o animal fica sempre na mesma invernada ou pastagem.
Alternado: o animal explora duas invernadas alternadamente, com 28 a 36 dias de pastejo, e com o mesmo período de descanso.
Rotacionado: o animal usa de 3 a 40 piquetes ou invernadas, com período de pastejo de 1 a 15 dias, com período de descanso de 24 a 39 dias, dependendo da espécie forrageira, nível de adubação ou fertilidade natural do solo, época do ano, categoria animal, sistema de produção e outros. O tamanho e número de piquetes dependem, exclusivamente, do potencial produtivo da forrageira, intensidade de pastejo e número de animais.
Entre os sistemas de pastejo, o "rotacionado" é o melhor; entretanto, exige um nível maior de conhecimento, dedicação e controle do sistema de produção.
‘Tanzânia’ e ‘Mombaça’ – 40 a 50 cm
‘Marandu’ e ‘Andropógon’ – 30 cm
‘Decumbens’ – 20 cm
‘Humidícola’ e ‘Dictioneura’ – 15 cm
‘Tifton’ – 15 cm
Evitar ao máximo o superpastejo, ajustando a carga animal em função da disponibilidade ou oferta de forragem. Essa técnica é de custo muito baixo ou até mesmo de custo zero na propriedade.
Uma das principais causas da degradação das pastagens é a redução da fertilidade do solo, em razão dos nutrientes perdidos no processo produtivo, que pode chegar a mais de 40% do total de nutrientes ingeridos pelo animal em pastejo, principalmente nitrogênio e fósforo.
A quantidade de adubação de manutenção, utilizada anualmente, está diretamente relacionada com a produtividade da pastagem. De maneira geral, recomenda-se devolver às pastagens 20% da receita bruta anual.
A utilização da adubação de manutenção é extremamente econômica desde que seja escolhida a espécie de forrageira adequada às condições de clima e solo, bem formada e manejada.
Para obter uma boa produtividade de carne e leite é importante utilizar pastagens, com animais de boa genética, sem problemas sanitários e reprodutivos. Portanto, devem-se descartar todos os animais improdutivos ou inferiores da fazenda, para que eles não eliminem ou reduzam a rentabilidade do sistema produtivo.
O objetivo deste trabalho é auxiliar o pecuarista. Na dúvida, consulte um técnico.